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sábado, 2 de setembro de 2017

Não tenho pretensão de ser melhor que meu avô, quero ser diferente’, diz neto de Chico Buarque

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Sorrateiramente, ele entrava na cozinha, abria gavetas e fuçava dentro delas até encontrar o que procurava: duas colheres de pau. Fazia delas baquetas e saía batucando sobre todas as superfícies da casa “para descobrir que som faziam”. O resultado era uma barulheira sem fim em uma casa já dominada pela música – um som que, na concepção do pequeno ladrão de colheres, era ritmo, música.
Hoje, Francisco Buarque de Freitas, o Chico Brown, tem 21 anos e já não rouba colheres: as baquetas imaginárias foram substituídas por um par de verdade, acompanhadas por teclas de piano e cordas de guitarra. Dos primeiros batuques improvisados derivaram jazz, rock progressivo, metal e até valsinhas – como Massarandupió, canção que compôs junto do avô, Chico Buarque, e que está no 38º álbum de estúdio do “vô Ico”, Caravanas: “Eu fiz a melodia; ele, a letra. Tinha que ser assim, ele é muito mais letrado do que eu”, conta, com um leve sotaque de Salvador, onde nasceu. “Com ele aprendi muita coisa sobre música e sobre a vida. Só não aprendi a jogar futebol.”
Chico não é só o primeiro neto de uma dos maiores nomes da música brasileira: ele também é filho do cantor, compositor e percussionista baiano Carlinhos Brown – e neto da atriz Marieta Severo. Sua irmã, Clara Buarque, também é cantora, e as irmãs menores, Cecília e Leila, já gostam de tentar tocar Palavra Cantada no piano. A arte sempre esteve no sangue e no convívio da família, principalmente nos almoços na casa da “vó Marieta”. “Na infância, sempre que meus irmãos falavam uma frase melódica, a gente criava música em cima dela. Se alguém falava ‘para de mexer no meu estojo’, por exemplo, já virava um refrão”, lembra Chico, rindo.
Ainda bebê, mesmo antes das colheres-baquetas, ele era levado pelo pai para batucar nos tambores do Timbalada. Um pouco maior, acompanhava os irmãos nos shows do pai e nas turnês do avô, apaixonando-se especialmente pela canção Outros sonhos, que para ele tem “gosto de infância”. Foi de ouvido – e inspirado nessas experiências familiares – que começou a tocar piano: “Eram temas de desenhos animados, de filmes como Star Wars, de super heróis, essas coisas de criança”. As composições próprias vieram depois, junto com poesias que escrevia na escola, nas aulas de filosofia e inglês – “era mais fácil compor em inglês, não sei por quê”.
Apesar da paixão inata pela música, demorou muito para o músico juntar coragem para mostrar suas composições para as “lendas” da família, mesmo quando sua música amadureceu para algo além das reproduções de ouvido das trilhas sonoras favoritas, e mesmo depois que o jovem músico já tinha tomado aulas de guitarra e bateria e suas canções ganharam a classificação de “repertório sério”: “Eu tinha muita vergonha de mostrar. Não mostrava nem para a minha namorada da época”.
“No fim, meu pai e meu avô é que quiseram ouvir o que eu estava fazendo, porque nessa época eu compunha todo dia. Acho que ficaram curiosos”, conta. E daí vieram as ideias de parceria com “vô Ico”, por e-mail: “Eu mando um e-mail com a melodia e ele devolve a com letra. É um trabalho demorado, vovô leva muito tempo para escrever a letra de uma canção. Eu não ouso interferir nesse processo”.

Massarandupió foi uma dessas colaborações à distância. A valsinha, cuja primeira parte “simplesmente apareceu” na cabeça de Chico e a segunda “veio num sonho”, foi uma de cinco melodias enviadas de Chico (neto) para Chico (avô) certa vez, por e-mail. “Demorou um tempão até vô Ico responder, e eu achava que essa valsinha estava incompleta”, conta.
Quando a canção já estava quase esquecida, veio a resposta: “Foi no dia do meu aniversário de 21 anos. Ele tinha feito a letra daquela música que me lembrava minha infância, nossa convivência. Foi o maior presente que já ganhei”, conta, e revela, também, que entre ele e o avô há diversas outras parcerias “em andamento”: “Muitas estão guardadas, mas espero que venha mais coisa por aí”.
Com o pai, a coisa é um pouco diferente: fazem jams musicais e experimentam “pirações”. Algumas chegam a ser escritas por Brown, mas nenhuma saiu da gaveta. “São exercícios de composição mais do que composições para o mundo. Com o vovô, o negócio foi um pouco mais devagar, ele viu que eu estava com um ritmo de composição recorrente todo dia, aí comecei a mostrar para ele e o trabalho juntos veio como consequência”.
Apesar das parcerias, Chico Brown diz nunca ter esperado ajuda da família para se erguer musicalmente. Pelo contrário: desde 2013, quando começou a compor seu repertório (que reúne canções como “Dentro dos olhos” e o samba “Rumo ao destino”) e a tocar em bandas mais estabelecidas, como a 3030 e a Nitú, ele nunca havia associado a própria imagem ao nome do pai ou ao do avô. “Não tenho a pretensão de ser melhor que meu avô ou do que meu pai. Eu quero fazer algo diferente, quero ir para outro lado.”
O outro lado? Algo que vá além da MPB: “Quero montar uma banda de jazz, uma de rock progressivo, e talvez mais para a frente trabalhar com música sinfônica, em especial no piano. Piano é uma coisa poderosa que a gente tem perdido um pouco. Não tem tanto a ver com os lugares musicais dos meus familiares.”
Isso justamente porque, desde o início de sua carreira musical, Chico diz sentir a pressão do público para estar à altura de seus familiares. “As pessoas têm uma imagem pré-concebida minha, e fazem uma comparação imediata ao meu avô e à minha família, me empurrando a ritmos que eles trilharam e pelos quais eu não tenho interesse”, diz. E completa, brincando: “Não tenho medo de ficar à sombra deles porque já estou, né? Fazer o quê?”.
Além de não querer ser pautado pelo que sua família já fez e ainda faz, Chico teme que sua canção se torne “mais do mesmo”: “Aprendi muito com meu pai e meu avô o que eu deveria fazer e o que eu não deveria fazer. Não quero que minha música fale demais sem dizer nada”.
Fonte: Revista Cult

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