Postagem em destaque

FIQUEM LIGADOS! TODOS OS SÁBADOS NA RÁDIO AGRESTE FM - NOVA CRUZ-RN - 107.5 - DAS 19 HORAS ÁS 19 E 30: PROGRAMA 30 MINUTOS COM CULTURA" - PROMOÇÃO CENTRO POTIGUAR DE CULTURA - CPC-RN

Fiquem ligados nas ondas da Rádio Agreste FM - 107.5 - NOVA CRUZ, RIO GRANDE DO NORTE, todos os sábados: Programa "30 MINUTOS COM CULTU...

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

MEUS INIMIGOS ESTÃO NO PODER, IDEOLOGIA, EU QUERO UMA PRA VIVER!

cazuza85.jpg
 Cazuza (Arquivo disponível no site Cazuza: http://cazuza.com.br/gallery/fotografia-2/)
PUBLICADO EM SOCIEDADE POR 
Quais as prerrogativas dos eleitores? Quais as prerrogativas existentes num sistema democrático em que seu eleitorado não se reconhece enquanto político? Nesse contexto, é necessário considerar a complexidade que o brasileiro enfrenta diante dos partidos políticos, e mais que isso, das ideologias que fundamentam os mesmos. A partir da música "Ideologia" de Cazuza lançada em 1988, o presente artigo contextualiza considerações acerca do cenário político hodierno brasileiro com o pensamento agambeniano.
Lançada em 1988, “Ideologia” é considerada a melhor canção da carreira solo de Cazuza, faixa-título de seu terceiro álbum, foi escrita pelo próprio cantor. Mas parece que foi escrita hoje. Apesar das entrelinhas ocultarem a particularidade referente a um momento difícil da vida do cantor, os versos desenham também uma revolta pela realidade política. Mais que uma obra de arte que reflete o próprio período em que foi escrito, a música é mais uma evidência de que a história brasileira passa por períodos de ciclos que se repetem, de formas características, e que permitem talvez o vislumbre da essência do brasileiro.
Mesmo escrito há 28 anos, o poema de Cazuza contextualiza problemas que podem ser observados sob a ótica atual. Tratando do cenário político hodierno brasileiro, o trecho da música citada permite a análise por várias perspectivas, entre elas: 1) o paradoxo da Democracia; 2) Condição de poder; 3) Crise de identidade; 4) Necessidade de pertencimento.
AVT_Giorgio-Agamben_6190.jpeg
 Giorgio Agamben, filósofo Italiano (1942-)
A partir de Agamben, é possível pensar que a condição de democracia no cenário brasileiro põe em questão considerações sobre legitimidade. A legitimação do soberano só se dá pelo conjunto, pela legitimidade do “bando”. Nesse sentido, a democracia não é um processo em que a soberania é imposta como ente transcendente, mas é propriamente decorrente do processo democrático. Quando os líderes políticos são execrados pela antipatia do seu povo, há um problema na sistemática da democracia. Quando o povo não se vê representado pelos seus líderes políticos, há um problema na sistemática da democracia. Se o oportuno “poder de escolha” deriva das mãos da maioria, como o poder vai parar na mão de seus inimigos?

Quais as prerrogativas dos eleitores? Quais as prerrogativas existentes num sistema democrático em que seu eleitorado não se reconhece enquanto político? Nesse contexto, é necessário considerar a complexidade que o brasileiro enfrenta diante dos partidos políticos, e mais que isso, das ideologias que fundamentam os mesmos. A modernidade, reconhecida pela era de relações efêmeras e fragmentadas acentuam a crise em torno de pretensões de pertencimento, de identidade, de comunidade e isso implica diretamente em ideologias que não são tão ideológicas. Há uma prostituição das legendas partidárias, que remam conforme a maresia, ou em casos extremistas há uma defesa arbitrária de argumentos totalitários (o que aponta para posições racistas, xenofóbicas, preconceituosas, etc).
O descuido com os critérios que deveriam sustentar a condição de um partido passa a influenciar nitidamente no comportamento do eleitorado. Ora se reconhecem como tal. Ora não se reconhecem como tal. A manifestação de democracia soa mais em um emaranhado de causas que devem ser abraçadas para ampliar o público eleitor interessado, do que propostas de políticas públicas e lúcidas que possam solucionar problemas na própria estrutura democrática. Em momentos de crises, o eleitorado critica o governo sem reconhecer-se como o bando que legitimou o soberano. É visível que grande parte dos indivíduos, estes mesmos que entoam a canção de Cazuza talvez sem se dar conta do conteúdo que pode ser traduzido em seus versos são os mesmos azêmolas que não querem ser reconhecidos como tais.
¹Publicado originalmente no jornal Correio do Norte, em julho 2016. Canoinhas-SC.
Conheça o Grupo de Estudos em Giorgio Agamben: http://www.agambenbrasil.com.br/

Fonte: http://obviousmag.org/

Nenhum comentário:

Postar um comentário